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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Praça Raul Pilla - A Pedra B

Homenagem aos amigos da J.P.
Da esquerda para a direita:
de pé: Willie, Pedrão, João (13), Édinho, Alex (cap. Presença), Denis e Eusébio (Léo)
sentados: Yury (Odim), Henner (Aranha), Kacau, Felipe, Fernando Byke (Novato), Jéssica e Cris.
No fundo a direita tem a velha das pombas.
Na calçada a esquerda tem o Tio Bin e seu poodle.




Raul Pilla
 
A praça Raul Pilla fica no cento histórico de Porto Alegre, na esquina da Duque de Caxias com a av. João Pessoa. 
Pra quem não sabe ela leva o nome de um político que era considerado o Papa do Parlamentarismo no Brasil.
Ele também foi médico, jornalista e professor. Foi um dos líderes da Revolução de 1923 (conflito civil entre chimangos e maragatos) e participou ativamente da Revolução de 1930. Do seu nome advém o termo gaúcho "pila" para se referir ao dinheiro.
Oitavo Batalhão de Infantaria a direita da foto de 1939

No entanto, antes que este local fosse uma praça, havia um grande prédio onde abrigou primeiro o Oitavo Batalhão de Infantaria e, posteriormente, nos anos 50, virou a sede da 6ª Companhia de Polícia do Exército, quartel onde servia o capitão Carlos Lamarca – que desertou em 1969 para aderir à luta armada contra o regime.


anos 60, Sexta Companhia de Polícia do Exército


 Neste local (um dos dois centros de tortura de Porto Alegre) , muitas pessoas foram torturadas e assassinadas durante a Ditadura Militar instaurada pelo golpe de 1964.
Entre elas o sargento rebelado Manoel Raimundo Soares, que lá esteve preso antes de ser encaminhado para ao DOPS, no caso que ficou conhecido como "Mãos Amarradas". 
Carlos Lamarca


Outro que também foi detido no quartel foi o coronel da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Daudt, que um pouco antes do golpe, durante a Campanha da Legalidade, se recusou a bombardear o Palácio do Piratini. No entanto, sua história teve um final menos trágico, porque após o golpe de 64, Lamarca, o ajudou a fugir dali.


Nos anos 70, após o quartel ter sido demolido para a construção do viaduto José Loureiro da Silva, a área da atual praça virou um grande estacionamento. Em 1977, a o local foi palco de um momento emblemático na história do Movimento Estudantil Gaúcho. Em 23 de Agosto de 77, numa passeata contra a ditadura, cerca de 3 mil estudantes se juntaram nas voltas da Casa do Estudante (a mesma de hoje, na João Pessoa) e começaram a se locomover.
 Mas na praça Raul Pilla, estavam concentrados os soldados da força de segurança, cerca de 2,5mil homens (de acordo com os jornais da época). O embate culminou com 32 presos e 4 policiais feridos. Eram tempos difíceis em que vigorava o Ato Institucional N° 5 (AI-5) e o Decreto Lei 477, que restringiam e proibiam as ações dos estudantes.


Atualmente a praça Raul Pilla, é um local bem diferente caracterizado por várias escadarias, alguns bancos extensos, uma pracinha infantil ao centro, árvores relativamente jovens, muitas pombas, muros grafitados e uma escultura de ferro feita por Luis Affonso denominada "Segundo Portal da Nova Era".
Hoje os tempos são outros mas a história continua a figurar no local. Em 2010, a SMIC (Secretaria Municipal da Produção, Indústria e  Comércio), sob a tutela de um prefeito que nas antiga até era músico de uma banda legal chamada Almôndegas, veio a reprimir artesãos de rua que permeavam o local com arte e cultura. A ação truculenta foi, como sempre, em conjunto com a brigada militar.
Além do artesanato, ali também havia uma frutaria de longa data na esquina. Também havia exposição de fanzines anarquistas além de muita música espontânea, malabarismo e diálogos de contra-cultura.
Logo após a repressão, num ato simbólico, os artesãos expuseram seus panos vazios na calçada, alguns cartazes informativos na grama e distribuiram panfletos para as pessoas que ali passavam, conversando e esclarecendo o que estava acontecendo no local.

A luta contra a repressão aos artesãos de rua é antiga e oculta para a sociedade em geral. Há uma visão muito estúpida que compara artesãos de rua com camelôs. Ignora-se o fato de que o artesão vende aquilo que constrói com as próprias mãos (cultura). O que acontece normalmente é a apreensão do material. Para recuperá-lo, é preciso pagar uma taxa que normalmente o artesão não dispõe de tal quantia. Considero isto como um ROUBO. Outra peculiaridade é o fato de que ás vezes o agente da SMIC avisa que irá apreender em algumas horas ou no dia seguinte (no linguajar deles "limpar"). Mas artesãos de rua tem uma singularidade no seu modo de vida que é a intinerância, não restrito apenas à feiras. Não há como avisar a todos. Então, se a SMIC notifica os que estão expondo em determinado dia, no dia seguinte aparecerão outros que não têm como saberem desse aviso e acabarão sendo "roubados". Ou seja, a organização dos artesãos de rua se dá de modo anárquico e orgânico e, por isso, por mais que se reprima, nunca hão de conseguir acabar com este movimento oriundo não dos hippies, como dizem por aí, mas dos mais remotos tempos da humanidade.

Em junho de 2013, data desta postagem, a praça é mais um dos vários locais que vem presenciando as manifestações populares contra o aumento das passagens. Batalhas homéricas entre manifestantes e policiais são travadas desde a Avenida Ipiranga até a Borges de Medeiros.
soldados vão à praça Raul Pilla para cerimônia que batiza a rua acima com mais um nome de militar (no caso, o do fundador da PE).
E no meio disso há este local, uma praça jovem onde aparecem crianças para jogar bola, idosos alimentando vários pombos, vizinhos passeando com seus cachorros, moradores de rua fazendo suas comidas, transeuntes parando para comer um cachorro quente ou um churrasquinho, viciados consumindo suas drogas, pessoas preocupadas com parentes no hospital Santa Casa, policiais rondando, garis limpando e artesãos ganhando a vida com suas artes diversas.

Dentre ou junto com este povo artístico, de calos nas mãos, alegre e batalhador, há cineasta, atores, educadores, universitários, malabaristas, pintores, servidor público, aposentado, médium, músicos, advogado, papeleiro, designer, entre outras coisas. E é pra estes que faço esta pequena homenagem.
Segundo Portal da Nova Era, de Luis Affonso