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domingo, 31 de dezembro de 2017

sábado, 30 de dezembro de 2017

colar de sementes e osso de jacaré


Sementes de Flambouyant, coco e olho-de-cabra e osso de jacaré.

Anéis de filigrana


A Arte de viver a arte de viver a ar... - Sobre mochilar fazendo arte


"...e às vezes, quando estou muito tempo em alguma cidade, ouço um ruído de vento e o som de motores. É a Estrada me dizendo: VENHA, YURY, VENHA"

vista de dentro da minha barraca em algum posto
É 5h30 da manhã. Conforme combinado de noite com o frentista, eu me levanto com o som de caminhões aquecendo os freios. Arrumo minhas coisas e, se não estiver chovendo muito, sigo caminhando pela estrada enquanto estico o polegar para os carros que passam. Minha mochila é rasgada e pesada, e quando paro, aproveito para beber a água que trouxe do posto de gasolina e costurar um pouco. O Sol, as vezes provoca um pouco de delírio, principalmente se o estômago estiver vazio. Me ponho a cantar ou a atirar pedrinhas em algum alvo (adoro as latinhas e o som que estala quando acerto-as). No meu mundo imaginário sou um competidor do nível sudamericano representando o Brasil sobre a narração do Galvão Bueno e os comentários de Arnaldo César Coelho. Nem sempre eu ganho.
colibri gigante atropelado
Olhando para trás com minha audição sempre alerta ao ronco dos motores do por vir, percebo a paisagem a minha volta, o som da fauna e da flora que chega a ser berrante em seu silêncio. De repente topo com a carcaça de algum bicho. Atropelado, provavelmente. Se eu olhar com mais atenção, encontro sementes e, com mais atenção ainda, alguma pedra semipreciosa. Acho importante relatar isso para que as pessoas entendam que eu NÃO COMPRO ANIMAIS MORTOS E, SIM, ENCONTRO-OS NA ESTRADA, NO MATO, NO DESERTO, PRAIA OU ESCAMBO COM OUTROS TRECHEIROS.
Conchas de Jambeli - Equador
crisocola encontrado em Nasca - Perú
medicina quechua


São 3 os melhores momentos momentos do rolê.
O primeiro melhor momento é conseguir a carona. A gente nunca sabe quem vai parar e isso é fascinante. Uma pessoa que dá carona por si só, já tem o meu respeito. A conversa, o encanto mútuo,  a história de vida e as referências históricas, políticas e, principalmente, de lugares para se conhecer. São coisas que me alimentam  a alma e me enchem de excitação.
vista de uma carona  na caçamba do Caminhão

caminhoneiro e outras mochileiras. 












O segundo momento é conhecer um lugar novo. Tenho comigo a ideia de que o mundo é muito grande para se voltar para um mesmo lugar e, só abro a exceção para reencontrar minha família. Porque é enriquecedor conhecer lugares, senti-los. O cheiro, a vegetação, a cultura, as paisagens e as lembranças que podem trazer. Viajar sozinho é triste por não poder compartilhar estes momentos, mas ao mesmo tempo te dá muito mais mobilidade para vivê-los mais vezes. Emfim, após isso é preciso se desenrolar para conseguir trabalhar (sempre cuidando com fiscais, artesãos locais invejosos, ladrões e xenofóbicos). Quando não rola no artesanato, rola tocando flauta ou com malabarismo, ou das três formas e, raramente, de forma nenhuma... De noite, procurar um lugar seguro pra descansar. Às vezes rola de ser adotado. E outras vezes, na hora de partir, rola de alguém querer ser adotado ou simplesmente querer viajar junto. Meu ritmo é frenético e, dificilmente alguém consegue me acompanhar por mais de 3 cidades. Fatalmente a cidade engole  as pessoas. Eu prefiro a estarda e é pra lá que volto.


Oásis de Huaccachina


Sol se pondo no Pacífico







Linhas de Nasca - Peru


Vale da Morte - Chile










mocó onde dormi no deserto de Atacama



pré-carnaval de Oruro - Bolívia



















Mar de turistas em Águas Calientes




referências ancestrais 





Casa abandonada em Florianópolis - Brazil
técnica peruana de arame que aprendi no Chile











expondo em Montanita, conhecida por ser meca sulamericana dos mochileiros - Ecuador

tocando flauta em Puno
O terceiro momento é quando armo a minha querida barraca torta, arrumo dentro dela, deito e com um belo sorriso no rosto, descanso o sono dos justos. Torço pra que minha família esteja bem e que poça sonhar com meu falecido pai mais uma vez pois são meus sonhos preferidos.

E, nessa rotina sem o compromisso de ser uma rotina, vou conhecendo uma infinidade de pessoas, cidades de diferentes países, parques nacionais, praias atlânticas, pacíficas, lagos sagrados, ruínas milenares, culturas diversas, glaciares, vulcões, sotaques e línguas (aprendi espanhol no Uruguai e aprimorei na Patagônia enquanto o inglês ficou por conta dos milhares de gringos que vou encontrando).
Nunca tive conta em banco (ainda), não trabalho com nenhuma revenda, não possuo nenhum documento além da minha surrada carteira de identidade e, porventura, um visto de entrada. Às vezes estou liso de dinheiro.
Lauca- entre Chile e Bolívia
mosaico em Cochabamba
Para tanto pago o preço disso. É preciso lidar com  a sorte o tempo todo. Um agente da fronteira ou do IBAMA que não entende que um artesão mochileiro não compra, mas acha sua matéria. Um policial, que não entende que um cara com a cara barbuda e suja não está, necessariamente carregando drogas. Pessoas que confundem o pó da estrada com falta de higiêne (é impossível viajar a pé e não se sujar com suor e poeira). Enfim, preconceito em geral.
aprendendo as carrancas 
Já passei por muitas situações de risco, sim. Matadores, chacinas, acidentes de estrada, cataclismas, excessos de drogas e depredação da natureza. O lado feio desse mundo está muito impresso em cada automóvel que poderia  dar uma carona mas passa reto. Mas o lado lindo está no próprio caminhar e tudo aquilo que isso te proporciona...




Xamã sobre tartaruga


Auto-relevo modelado em massa epoxy com penas de arara, pedra ametista (colar superior, peruana), garra de jaiva (colar inferior, chilena), sementes de Olho-de-cabra (Bolívia). Sobre o casco inferior de uma tartaruga (que encontrei no Sul do Brasil).

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Carranca Demoníaca


Auto-relevo com massa epoxy e couro de cabra sobre casco de tartaruga que encontrei morta na praia. A pedra na testa é uma crisocola. O olhos são búzios.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A Recriação de Adão

Auto-relevo de epoxy sobre casco de tatu que juntei caminhando pela estrada.
Releitura da obra renascentista de Michelangelo intitulada A Criação de Adão situada no teto da Capela Sistina e feita entre 1508 e 1510. O conhecimento anatômico do pintor italiano sugere que há uma mensagem subliminar por conta de que, no fundo de onde estaria  a figura de Deus, haver a silhueta de um cérebro.
A partir disso procurei criar uma interpretação própria e, ainda, criar uma silhueta de um coração onde, na obra original, estaria o personagem de Adão.