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sábado, 23 de abril de 2022

El Libertador - Simón Bolívar

 A primeira vez que li As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, senti dezenas de sentimentos repulsivos. Um deles foi o de não conhecer a minha própria história enquanto americano. Afinal de contas, sempre amei história (antiga, clássica, medieval, pós-moderna, pré,etc.). Mas não sabia direito o que significava a Patagônia, os Andes, os Rockefellers, a Guerra do Salitre, do Chaco... enfim, se dependesse da escola, só saberia dos três principais povos pré-colombianos. Mesmo a história brasileira é ensinada em suas escolas com uma velada vergonha, como se o modo de vida neolítico dos nossos índios fosse algo indigno de estudo. 

Foi preciso viajar e conhecer de perto os povos e suas culturas e biomas para entender melhor o passado e presente do novo mundo. É por isso que agora posto com muito orgulho esta peça que chamo de El Libertador. Se todo escultor, em algum momento faz um Dom Quixote, um escultor latino americano tem um dever social de criar um El Libertador.



Para entender o caraquense Bolívar, é preciso observar sua história desde criança, quando ainda era uma criança nascida, em 1783, de família aristocrata dona de mineradora e fazendas de algodão e mais de 1200 escravos. Perdeu seu pai aos 3 anos de idade e a mãe, aos 9. A morte sempre permearia seu destino e, então, fora morar com o avô materno, que também veio a falecer levando o jovem Bolívar à tutoria de tios maternos. O jovem Simón recebeu uma educação de alto nível acompanhada de intelectuais como o iluminista Simón Rodríguez e o poeta humanista Andrés Bellos. Aos 14 anos, ingressou no exército (onde se destacou como cadete) e dois anos depois foi viver na Espanha onde foi tutorado pelo importante marquês de Ustáriz, dedicando-se a um aprofundamento de história, matemática, literatura e língua francesa. Em 1802 casou-se com Maria Tereza Rodríguez, mas esta faleceu um ano depois de febre amarela. Nunca mais ele se casaria novamente.
Aos 19 anos, o viúvo Simón Bolívar, agora fazia o papel de fidalgo estouvado agora dedicado a cortejar toda beldade parisiense que visse pela frente com seu espetaculoso chapéu de abas grandes (chapéu-a-bolívar, que firmou moda à época) tal qual um dândi. Um dia, em uma festa, ele conheceu o renomado explorador e naturista barão prussiano chamado Alexander Von Humboldt, que havia recém chegado de uma viagem de 5 anos explorando, rios, florestas e montanhas da América Latina. Relatou para o jovem venezuelano que por onde ia notava o anseio dos chefes crioulos e nativos  em se livrar de uma vez do domínio espanhol. Só o que faltava era alguém que os liderasse.
Agora é importantíssimo entendermos o momento e meio em que estava inserido Simón. Estamos em 1804, Napoleão Bonaparte recém se coroava como imperador da França. As duas margens do atlântico haviam sido sacudidas pelo lado d novo mundo, a Revolução Estadunidense e, pelo lado europeu a Revolução Francesa. O preceptor Simón Rodríguez era um peregrino da liberdade, ávido seguidor de Rousseau e legara a Bolívar o horror a tirania e o amor desmedido à independência. Por todos os lados do Velho e do Novo Mundo, proliferavam jovens rapazes desejosos de tornarem novos "napoleões". Junto com seu preceptor e outro amigo, chamado Francisco Del Toro, os três levaram 11 dias para atravessar os Alpes e fazerem um tour pela Itália. Ali, presenciaram Napoleão tomar a coroa dos Lombardos e se auto-coroar. Bolívar via de perto um homem tomando seu destino nas mãos. O trio, então subiu o Monte Sacro, lugar subversivo onde, em 494 a.C., liderados por Sicino Belluto, o povo pobre de Roma manifestou sua desconformidade com as injúrias que sofria por parte dos patrícios, arrancando deles, com uma longa greve, um conjunto de concessões. Ao cair da tarde Simón Bolívar se ajoelha ante Rodriguez e lhe presta um juramento que guiaria o resto de sua vida, O Juramento de Monte Sacro.


Dali adiante, Bolívar pouco a puco foi se inserindo na luta pela   independência da América espanhola até virar seu principal herói. Cumpriria seu juramento e, ao final da vida, se depararia com as consequências da liberdade. Um povo que não sabia o que fazer com sua liberdade e continuava escravo de seus oligarcas transformando Bolívar em uma figura autoritária, o que aquebrantara seu espírito. Uma lição que podemos entender alguns aspectos lendo livros como As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano e A Elite do Atraso, de Jessé de Souza, que nos ajudam a entender o quanto nossa história pode ser manipulada e reveladora.