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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Fernando Pessoa

 Fernando António Nogueira (Lisboa, 1988-1935).
Foi um escritor, poeta e filósofo. Suas obras transitaram tanta na língua portuguesa quanto na inglesa.


Durante sua vida adotou outros heterónimos como Alberto Caeiro, álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares, etc.


O CEGO E A GUITARRA

O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo:cada coisa é sua
Ouço: cada som é consigo.

Sou como a praia que invade
Um mar que torna a descer. 
Ah, nisto tudo é verdade
É só eu ter que morrer.

Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.

Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
é um cego e a guitarra
Que estão a chorar.

Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.

Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.