couro de jararaca (do Brasil) sobre chapéu de couro de canguru (da Austrália) |
Apesar do pesar, resolvi aproveitar o couro dela. Já curti alguns couros como lagarto, cruzeira e coral e é sempre um desafio, até porque cada uma têm suas peculiaridades.
Aproveitei e registrei com a câmera do meu humilde celular
1- TIRANDO O COURO
Muitas cobras, como a Jararaca, vivem em pares, por isso é importante não deixar rastros para evitar que venha a(o) outra(o) companheira(o).
2- DEIXAR O COURO DE MOLHO
3- TRATANDO O COURO DA COBRA
Após dar outra lavada no couro, estendi-o sobre um monte de sal e glicerina que coloquei em uma tábua de madeira e apliquei mais outra camada em cima do couro de modo que ele ficou como que enterrado em sal e glicerina.
4- ESTICANDO O COURO PARA TERMINAR A CURTIÇÃO
Esta é uma parte delicada do processo pois foi preciso muita sensibilidade para não rasgar o couro e ao mesmo tempo esticar BEM .
5- COLAR O COURO SOBRE OUTRO MAIS DURO
é importante que se dê uma atenção especial sobre as cascas de escamas que vão caindo eventualmente.
6- FIXANDO O COURO DA COBRA NO COURO DE CANGURU
O couro da cobra teve um grande destino. Um chapéu para fins de uso em rituais xamânicos.
Para isso eu medi-o no chapéu, cortei a parte excedente, desenhei o contorno para saber exatamente onde aplicar a cola.
Enfim, esta parte de como colar está no verso da lata e não tem muito segredo.
7- RESULTADO FINAL
Esta foto foi meu amigo, dono do chapéu, que me mandou. Ele comprou um verniz especial para couro e aplicou-o fazendo com que além do brilho, realça-se os desenhos da pele da cobra e, acredito eu, fixa-se as escamas que ainda não tinham se soltado por completo (casca das escamas). Ainda tem um pouco da marca do grafite da hora em que delineei o couro para saber onde aplicaria a cola. Mas isso sai fácil se não com o dedo, espero que com o tempo.
Hoje, ao olhar estas fotos, lembro do momento em que olhava os olhos hipnóticos da cobra que me encarava em riste com que fosse me dar o bote ha qualquer instante.
Lembro-me de pedir desculpas antes de atacá-la com um golpe mortal e perfeito. Sentei e fiquei ali parado olhando pra ela em um momento em que tudo era silêncio. O coração estava acelerado como sempre ficou toda as vezes em que me deparei no meio do mato com uma jararaca. Todas as vezes eu recuara e desta vez não tive escolha e, se tinha, até agora não sei.
Sempre fui criado em grandes capitais e talvez por isso veja os bichos selvagens com tanta sacralidade.
Mas pajelanças a parte, queria relatar a alegria de saber que uma experiência pessoal, tão espiritual, agora vai partir para uma jornada de várias outras na cabeça de um amigo que está viajando pelo mundo afim de conectar-se com a natureza e dividir sua vivência com outras pessoas que, como ele, estão a procura de algo mais.
Como artesão, é preciso sempre trabalhar, também, o desapego...